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quinta-feira, 28 de abril de 2011

O outro lado

uma risada eclodiu lá no fundo da madrugada, o vento passava por frestas deixando ecoar agudos sons que pareciam gritos engarrafados. o céu estava limpo, a não ser pelas várias nuvens carregadas que vinham do litoral para o centro da cidade. a visão que eu tinha era da janela da frente e a avenida, que por trás se divertia com seus opostos horizontes sem fim, hora iluminada, hora não, graças a um poste que há 2 meses começou a apresentar esse (de)efeito se fazendo parecer com um arranjo de natal, se visto lá do espaço sideral.

estaria dormindo se estivesse com sono, estaria entertido lendo um livro se soubesse ler algo que não me interessasse. estaria bêbado se tivesse motivos para beber, tristes ou alegres. poderia estar em qualquer lugar, mas estava ali, sentado, fitando o nada, organizando meus pensamentos, viajando. até a hora em que me dei conta da tensão que envolvia o ar e a situação. veio o medo e derrubou a ficha que faltava para me tocar que não havia ninguém por perto. a situação pintava com a escuridão toda aquela melancólica sensação sufocante e devastadora que a solidão nos causa e, que ao escrever, apaga toda a mágica diária do viver. viver? pessoas passam na minha frente e ninguém me vê. atravessei para o outro lado e nem me dei conta que já havia passado de minha hora. todo o choro que havia de ser derramado, foi derramado. toda a dor que há de sentir-se em uma partida, foi sentida. estou do outro lado e agora é tarde para tentar reparar uma vida de omissão.

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