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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Quando queremos acertar

O que seríamos se não fossemos nós?
E o que fizemos estando a sós?
Eu não teria desatado o nó,
nem acharia que estou melhor.
O que faria se não fosse você
a razão, pela qual perdi a razão
e achar-se-ia que saber, seria solução?
Era melhor guardar o que foi dito,
apagar o que foi escrito.
Não ter te conhecido!
Não ter recebido a vida que você me deu
e depois ter morrido.
Sou a estrela que faleceu
quando você em mim sentiu
a paixão, enfim, falir.

Eu faria tudo de novo.
Te procuraria em todos os ocos
que a minha alma percorreu.
Traria por mil vidas
você junto a mim,
mas dessa vez sem erros;
sem precipitar ou cometê-los,
sem acusar ou sentir medo,
sem mentiras, nem segredos.
Faria tudo de novo.
Mas faria, de vez,
de você a minha vida
ou morreria mil vezes
enfim.

domingo, 28 de abril de 2013

Costas nuas

Ela estava no fim do balcão bebendo doses de whisky como se tentasse matar algum pensamento que insistia em reaparecer. Vestido vermelho no corpo, azul nos olhos e cigarro entre os dedos, ignorando com desdém todas as investidas que passaram a motivar apostas entre os homens do bar. Ninguém conseguira arrancar um sorriso, daqueles que valeriam vidas, inspirariam pós-modernistas, católicos e ateus. Eu vi aqueles profundos olhos me cortarem a existência, duvidei que pudesse respirar enquanto ela tragava mais um cigarro e destroçava as minhas certezas.

Os lábios encostavam o copo delicadamente, as mãos sempre passeavam pelos cabelos a fim de tirá-los dos olhos. A maquiagem estava um pouco borrada e o semblante era de quem já estava cansada de chorar, de quem quisesse gritar, mas estava apenas ali sozinha, porque saberia que ninguém entenderia o que tinha para dizer. As vezes bocejava para parecer entediada com alguma coisa, mas na verdade ela estava querendo dizer algo, mas em sua garganta havia um nó e em sua vida uma dor, e nenhum dos dois alguém conseguiria resolver. Eu estava tão desamparado quanto suas costas naquele vestido. Quis falar sobre toda a vida que vi em sua alma, mas haviam vários olhos atentos a cercando. Foi quando ela se movimentou e trouxe suas pernas ate mim. Fiquei atônito, surpreso e desconcertado. "Me leve para outro lugar."

O que você diria se soubesse que poderia viver algo que ninguém entenderia? Se você visse aqueles olhos saberia o que estou dizendo. Era como um convite à um abismo, onde eu saberia que no final eu me jogaria de lá de cima por preferir a ideia de morrer do que desacostumar-me àquela presença. Eu não entendo como começou, mas eu já podia prever como iria acabar. Aquela forma de olhar com desatenção para o vazio e andar deslizando depois de tantos drinques, denunciavam a forma como entraria e sairia da minha vida. Meses depois eu continuei frequentando aquele bar, na esperança de topar com aqueles olhos tristes, ocupei seu copo e tomei, por empréstimo, vários copos, conheci outros corpos, mas ninguém era tão triste quanto ela, nem tão espetacular.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Talento


Repousas em profundo sonho
pendurada em meu peito.
Caiu sorrindo no sono:
"Deus conserve nosso leito."

O que vocês estão vendo,
imaginando ou vivendo,
se for metade da vida
que levo com a minha querida,
fiquem do sonho sabendo.

O amor não é alento
nem tão pouco sofrimento
estique para os céus as mãos
em sinal de agradecimento

você enfim está vivendo
embora de amor morrendo
eu mostro o meu talento
escrevendo de coração.

Em comemoração aos mais de dez mil acessos que o blog conseguiu e todos os amores que ele celebrou.

domingo, 21 de abril de 2013

Janelas

Sei que há no mundo bilhões de pessoas, no céu trilhões de estrelas e muitas ondas solitárias por todos os oceanos, mas não considero egoísmo pensar em uma só pessoa. O que tem demais em pensar com o coração? Somos racionais, eu sei, mas não há pecado nenhum em ser tomado pelas emoções. O meu coração anda sozinho às vezes, e sei que ele precisa aprender a andar assim, mas o que posso fazer se enquanto ele aprende a caminhar, tropeça sempre em você?

Os olhos são a janela da alma. Gosto de pensar que a minha casa foi construída em uma montanha e tem janelas brancas enormes de madeira que abrigam uma vista espetacular de enormes campos e florestas, onde passeia a minha alma. Meus pensamentos vagam pela estratosfera e desaba com a chuva tornando rios, enchentes e tsunamis.

Os meus olhos nunca se fecham, e você sempre passa pela minha janela. "Olhe bem, a porta está aberta, mas porque você não entra?"- gritam todas as células do meu corpo, não só a minha alma suplica, como todo o meu ser te devora, te implora: "vem e fica". Fecharei as janelas quando você entrar pela porta com um sorriso no rosto e um vinho nas mãos dizendo que será minha. Não precisa prometer construir uma vila inteira ou mover todas aquelas montanhas, pode ser só por hoje, e só por hoje eu estarei eternamente feliz, extremamente contente, imensamente alegre. Só peço que quando for partir, deixe as janelas abertas.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Perigoso mantra dentro de você

Encarcerado, acorrentado, esquecido e isolado. Batendo forte e endiabrado, batendo forte a toda hora, bate, espanca e não assopra. Machuca por dentro. O que virá agora?
"Segura a onda! "Deixa seguir", "Esquece", "Não esquenta".
Mas não é isso, posso sentir.
A onda bate
bato de volta
ninguém se sai
olhe sua volta
a harmonia então
dependerá talvez
do sim ou não
insensatez
aí se solta, alaga, emerge, traz de volta a peste,
volta o tempo, voltam as horas
tortos olhos a sua volta
ninguém se fere tanto
quanto você mesmo.