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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Falar de amor

e como a chegada da onda que proporciona sublimes segundos ao surfista e adorador do mar, como o nascer do sol visto por de trás das nuvens, como a visão de uma estrela cadente que costura o grande painel divino, eu me senti igualmente anestesiado de sentimentos irreconhecíveis e indescritíveis enquanto conversava com você. seus lábios articulavam-se e movimentavam o meu desejo, minha ânsia em poder tocá-los. seu rosto ligeiramente avermelhado por causa da circunstância entregava sua ansiedade camuflada por toda aquela segurança, carisma e olhos que completavam todas aquelas linhas cuidadosamente traçadas no seu rosto.

dia e noite você me atormentava. minha garganta quis gritar, meu violão quis tocar, minha cabeça quis pensar e eu quis você todos esses dias. eu senti que era você quem devia estar ao meu lado, eu senti que eu devia ser a pessoa, o motivo, para que aquele seu meio-sorriso se completasse, para que curasse qualquer dor que ousasse doer, para que afastasse qualquer medo que resolvesse te amedrontar, para te acolher em meus braços e levar você para conversar lá em casa.

já passou um ano desde que você disse sim para mim. faz um ano que eu me senti completo pela primeira vez. há um ano eu vou dormir ansioso e acordo feliz para te ver novamente. em um ano, ninguém pintou tão bem esse meu sorriso como você pintou em todos os seus beijos, em todas as suas declarações, em todos os seus anseios, em tudo! você me faz passar pelos trópicos imaginários a cada ligação. é tanta felicidade que eu acho que vou enfartar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pensar em não pensar em alguma coisa

como não pensar em nada? como fechar os olhos e imaginar coisa nenhuma? como ausentar imagens, pensamentos, sonhos? como transceder a própria imaginação e enganar a própria mente? não sei se seria uma conquista digna de louvor ou se qualquer ameba conseguiria pensar em nada. e me desespero quando me toco que estou sempre pensando em algo, estou sempre dando asas a imaginação, dando pernas a criatividade, dando uma mãozinha para os pensamentos. será que não sou bom o suficiente para abstrair e limpar a cabeça ou será que não sirvo nem para pensar em nada? em quê pensar? ou melhor, em quê não pensar?

o vazio. mas o vazio que vejo com os olhos fechados tem cores e elas me remetem a várias coisas. vou me esforçar para tentar não imaginar nem o vazio. apaga-se o vazio.

a solidão. mas a solidão me arremesa junto a tristeza, afogando-me em decadência numa gradação dolorosa. e mais sentimentos e pensamentos me vêm a tona. apaga-se a solidão.

estou pensando em nada? mas como pensar em nada e estar pensando em pensar em coisa alguma? estou ficando confuso e meus olhos cada vez mais embriagados da luz que invade a minha retina.

no que pensar para não pensar em nada? no que fazer para meditar? subtrair e organizar algumas fileiras de memórias úteis e inúteis em prateleiras de dores de cabeça. arquivar a nostalgia e todas as sensações, boas ou ruins. esquecer-se do vazio que a solidão nos traz, nadar para fora desse mar receoso de tristezas e livrar-nos do medo do escuro.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Do livro da Lya Luft - A história dos Sentimentos

Os Sentimentos Humanos certo dia reuniram-se para brincar. Depois que o Tédio bocejou três vezes por que a Indecisão não chegava a conclusão nenhuma e a Desconfiança estava tomando conta, a Loucura propôs que brincassem de esconde-esconde. A Curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo, e a Intriga começou a cochichar com os outros que certamente alguém ali iria trapacear.

O Entusiasmo saltou de contentamento e convenceu a Dúvida e a Apatia, ainda sentadas num canto, a entrarem no jogo. A Verdade achou que isso de esconder não estava com nada, a Arrogância fez cara de desdém pois a idéia não tinha sido dela, e o Medo preferiu não se arriscar: "Ah, gente, vamos deixar tudo como está", e como sempre perdeu a oportunidade de ser feliz.

A primeira a se esconder foi a Preguiça, deixando-se cair no chão atrás de uma pedra, ali mesmo onde estava. O Otimismo escondeu-se no arco-íris, e a Inveja se ocultou junto com a Hipocrisia, que sorrindo fingidamente atrás de uma árvore estava odiando tudo aquilo.

A Generosidade quase não conseguia se esconder porque era grande e ainda queria abrigar meio mundo, a Culpa ficou paralisada pois já estava mais do que escondida em si mesma,a Sensualidade se estendeu ao sol num lugar bonito e secreto para saborear o que a vida lhe oferecia, porque não era nem boba nem fingida; o Egoísmo achou um lugar perfeito onde não cabia ninguém mais.

A Mentira disse para a Inocência que ia se esconder no fundo do oceano, onde a inocente acabou afogada, a Paixão meteu-se na cratera de um vulcão ativo, e o Esquecimento já nem sabia o que estavam fazendo ali.

Depois de contar até 99 a Loucura começou a procurar. Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso ouviu um gemido: era o Amor, com os olhos furados pelos espinhos.

A Loucura o tomou pelo braço e seguiu com ele, espalhando a beleza pelo mundo, desde então o Amor é cego e a Loucura o acompanha.

Juntos fazem a vida valer a pena - mas isso não é coisa para os medrosos nem os apáticos, que perdem a felicidade no matagal dos preconceitos, onde rosnam os deuses melancólicos da acomodação.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Música

era uma tarde e era igual. uma tela indiferente. um retrato comum. céu azul, sol radiante. e o que fazia sua cena ímpar era o som, era a música. e a cena o fez escutar o que estava tocando. o som veio pelo ar, adentrou pela orelha, penetrou os tímpanos, invadiu o cérebro, passou pelos neurônios e virou marcação compassada na sola do pé, que virou batuque, que virou ritmo. virou suingue, que virou ritmo. virou batida, virou ritmo.

compassos ordenados e sicronizados, mente alerta e ouvidos funcionando e atentos. criatividade e ideia. movimento contrario do impulso. da sola do pé, do ritmo, direto para o cérebro, direto para o ar. e fez-se letra, fez-se melodia e ritmo.

falava do universo, falava do mundo, acreditava que o amor era remedio e não doença. falava de irmandade, falava de harmonia, falava de sicronia, acreditava que o amor era inicio, meio e fim de uma historia mal contada pela humanidade.

não fez-se musica. ela ja estava ali e ele só a percebeu, ele só a transcreveu, ele se encantou e a cantou. ele não criou, como um processo aerobio, transformou energia em materia.

inspiração existe e é tudo aquilo que nos fortalece e nos torna capaz de tamanha sensibilidade. musica é dadiva, musica é prazer, musica é vida!

sábado, 10 de julho de 2010

Nossa caminhada

quem somos? aonde estamos? para onde vamos? por que vamos? ao decorrer de nossas vidas, sempre nos questionamos sobre nossa própria existência. se o que fazemos está certo, se nossos valores estão corretos e se somos as pessoas que queremos ser.

as grandes coisas da vida não são os artigos de luxo muito menos a exaltação ao capitalismo. não são as coisas que nós aproveitamos sozinhos, nem as que nós precisamos passar por cima de alguém para conseguir, a grande beleza da vida está nos pequenos detalhes, onde todo mundo esqueceu de procurar, onde ninguém mais faz questão de notar. um sorriso, uma celebração entre amigos, uma tarde com a familia, um cinema com a mina, um abraço.

independente da religão que o indivíduo acredite, é inquestionavel a ideia de que quando morremos levamos o que fomos e não o que tínhamos. praticar o bem, ajudar a pessoa que está ao nosso lado, ser generoso e honesto, ser humilde e bondoso, não guardar mágoas nem sentimentos que despertem tristeza e raiva, e lembrar-se que alegria maior é alegria compartilhada.

em nossa historia quando não estamos satisfeitos com o desenrolar dos fatos, procuramos um caminho em que encontremos paz e felicidade, e nos apressamos e queremos percorrer todo esse caminho no minimo espaço de tempo, mas não é isso o que vale. preocupar-se com os fins sem olhar os meios não é algo louvável. na verdade o que importa mesmo é a caminhada, porque o fim é consequência.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Fim

o que aconteceu? não consigo entender o porquê de você parecer estar chorando. eu sei que o dia não tem sido tão bom assim, nem as horas tão generosas, mas não fique assim. eu sei que tudo o que vejo são imagens turvas. eu sei que já não sei mais nada.
desde que entrei você parece não conseguir parar de chorar e eu estou ficando angustiado com todas essas lagrimas. me sinto mal. me sinto inutil. não sei o que faço.
um dia estava chovendo e estávamos sós naquela sala escura e eu nem lembro que filme passou nem a noticia que o jornal anunciou, mas lembro que quando você sorria tudo ficava mais aconchegante e quente. seu sorriso sempre foi grande o suficiente. seu sorriso sempre foi tudo pra mim. por que você não volta a sorrir daquele jeito? por mim...
nosso romance está borrado como uma tela exposta a uma tempestade. nosso amor está degastado como todas as palavras e todas as nossas brigas. o quarto está infestado de um sentimento estranho e no meu estômago, o vazio que existe, está cheio de coisas indescritiveis.
será que foi isso que aconteceu? será que você ainda está aqui? será que é você mesma quem está chorando?
você existe. eu posso sentir. mas não sei mais se está aqui.
um mar de ressaca, uma noite nublada, um mês de greve de fome, uma topada. tudo seria melhor do que essa sensação.