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quarta-feira, 29 de maio de 2013

TPM

Eu sei que está tudo bem, que a vida esta ótima, talvez parada, mas estamos bem. Estávamos, estamos, ficaremos. Você não precisa gritar, mas pode se quiser. O dia está lindo, mas olhando bem, você está certa, que coisa chata! Concordo com toda a sua revolta, o mundo poderia ser mais fácil. Quem mandou essa calça encolher? Não precisa ter paciência, olha só que milagre, alugaram o seu filme favorito e tem, na geladeira, chocolate suíço. Não precisa abrir o sorriso, continua emburrada, fechando a cara para os meus sentidos. Eu acredito que não é por mal, acredito. Te amo e isso não é castigo. Você esparramada na poltrona, sem questão de disfarçar o pijama, eu sorrio sozinho, me divirto contigo.

Olha o poema que escrevi, não brigue comigo, não é de você que estou rindo, é a felicidade transbordando, logo mais você estará de novo reclamando, então já adianto: você é linda 365 dias por ano. E se vamos sair? Cinquenta e duas roupas no armário não servem, sapatos, saltos, sandálias não prestam. O cabelo lhe parece horroroso, mas já te garanto, difícil seria concordar com a sua opinião e te dar a razão, você é linda e continua sendo, mesmo querendo assassinar-me, continuo feliz sendo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Relógio quebrado

Ser ou não ser não é mais a questão,
me desculpem Shakespeare, Jobim e Platão,
mas ninguém nunca esteve com a razão,
até o momento em que as luzes se acenderam
e ela entrou no palco ajeitando os cabelos.

Solução pro meu dilema é pouco, Tom,
olha que espetáculo, é um dom!
A voz mansa, cantante
combina com os olhos, também radiantes.
Enrolei seu dedo com prata e te dei um relógio
quebrado, sem jeito, pra hora não passar, analógico.

Uma viagem sem volta,
no mundo, dar voltas.
Estou bem com a sua chegada
Não irei te pedir nada.
Fascistas, budistas, pacifistas, árabes, muçulmanos,
concordariam com o que eu disse e até fariam um plano
Se uniriam, eu sei, para tentar entender
como existe alguém tão boa quanto você.

O que querem as mulheres?

As mulheres e seus mistérios
da mente aos pés,
dos olhos aos saltos,
das olhadas que saltam.
O que elas pensam?
Maluco o que souber
o que querem as mulheres,
o que as fazem felizes
e o que as deixam tristes.
Elas motivam sorrisos,
com pierciengs em umbigos
batons, maquiagens, sombras,
flores, perfumes, contas.
O que querem as mulheres?
Querem por inteiro,
querem em partes,
por uma noite
ou por uma tarde.
O que desejam fazer
com os homens que caem
no encanto do canto
de sereia?
Pobre do malandro
que anuncia seu jogo
e cai mesmo assim
sorrindo meio bobo.

Marcam a hora
e chegam com demora
atrasam e atrasam
"Faz parte do charme".
Alegam sorrindo
como se dissesse
"valeu a pena esperar, né?"
O que você quer, mulher?
Diga pra mim
antes que eu enlouqueça
tentando entender
o que você deseja
de mim.
O que de mim você quer
eu seria tudo pra você
mas se você deixasse ser.
Ligar no dia seguinte
ou deixar pra depois,
pegar o telefone
ou deixar pra depois.
O que querem as mulheres?
Ficam inseguras,
se gostam, se acham maduras.
se aceitam têm medo
de perder.
Elas também têm medo
de perder o sossego.
Já o juízo fica a nosso cargo
de perdê-lo, claro!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Netuno

Deixar que o oceano seja
segunda pele
que o mar, que anseia
pela minha prece,
me carregue por quilômetros
décadas e anos
me guarde no estômago
de alguma baleia gigante
me conserve o mesmo
e me entenda o apelo
de que não posso
não consigo.
Netuno, se eu vê-lo
me acompanhe ao fundo
do mais perigoso recife
me mantenha astuto
dormindo estou em declive
Eu não consigo viver mais
nem sobreviver assim
me tiraram a parte que cabia
o universo e mais cabia em mim
me cabiam as estrelas
mesmo aquela vistosa
que já desaparecera
em mim cabia algo maior que o tempo
foi uma linda princesa quem me deu
de um reino tão distante
assim como o seu
a mesma me prometeu
que nunca me esqueceria
e disse: meu coração é seu!
Então me diga, oh grandioso
detentor do tridente
se esse trágico ocorrido
te deixa também ansioso
ou apenas sorridente
por estar solitário e esquecido
aqui nesse reino proibido?
Não ria da minha desgraça
não estou fazendo alarde
sinto que ela me esqueceu
me falta alguma parte
Céu, mar, estrela-maior
quantas ondas precisarei pegar
para esquecer que dói
para entorpecer os olhos
para enfim sossegar
nem que me destinasse a morte
e enfim sossegasse a sorte
estaria enfim satisfeito
então se quiser assim fazê-lo
saiba que não estarás ajudando
muito menos atrapalhando
por capricho ou pirraça
só quero que você arranje
uma passagem sem volta
partindo daquela praça
e talvez eu cante
o som que você gosta
imitando pássaros
sobrevoando horizontes
mas me ajude logo
preciso vê-la
se isso é saudade, que assim seja
conheci os anéis de urano
vi o sol nascer em marte
preciso dizer que a amo
antes que essa dúvida me mate
Será que ela me esqueceu?
Se sim, não posso imaginar
o que será que aconteceu
eu preciso parar, pensar, agir, voltar lá.
Sem ela eu não vivo
Oceano, que castigo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Esperança

3/3

Depois de cinco meses de muita neve, as temperaturas começaram a aumentar, dando espaço para o Sol e as calçadas, agora descobertas. Moscou é um dos lugares mais bonitos do mundo, assim descreveriam o sorriso de Natália. Pés e mãos finas, bem cuidadas, pele branca, macia, ombros delicados, andava como uma bailarina encanta em um palco no solo da ópera. Os olhos lembravam o inverno russo, frio, hipnotizante e incrivelmente lindo. Tinha os cabelos escuros como o céu limpo daquela noite em que conheceu Nícolas e seu pai.

A lucidez chegava e ia embora de repente, mas estava tornando-se cada vez mais ausente, raros eram os momentos em que Igor conseguia situar-se, reconhecer a si e a seu filho. Então, cada momento de sobriedade mental, era uma festa, as vezes duravam minutos, outras vezes horas. Os olhos se enchiam de lágrimas, as lágrimas secavam e plantavam marcas em seu rosto, o tempo passava e castigava-o, assim como as tempestades castigavam a linda Moscou. Nícolas tentava não chorar, manter a calma, e tentar aproveitar o máximo de cada momento. Nunca a vida foi tão aproveitada, bonita e simples quanto naqueles segundos, minutos e horas. Mas a vida nunca tinha sido tão parecida com a morte, como quando a memória do seu pai desaparecia novamente. Olhos perplexos e gritos horripilantes. Uma dor na alma. Os últimos anos o fizeram amargo e solitário, mas tudo aquilo ficava pra trás quando estava com o seu pai, e pela primeira vez, uma sensação diferente em sua vida.

Depois que caiu em si, Natália aproximou-se e pediu desculpas pelo constrangimento, explicou-se, emocionou-se e percebeu que poderia estar incomodando novamente com tantas explicações. Estático, Nícolas sentiu uma ponta de alívio e não conseguiu segurar o sorriso. Ele não conseguia prestar atenção em nada do que a curiosa estava falando - e muito menos tinha se importado com a fotografia. Fascinado pela beleza impecável a sua frente, sentiu-se bem. O rosto dela queimava em um vermelho destacável, a começar pela cor da sua pele, e então, depois de alguns segundos, ele a segurou pelo braço enquanto ela tentava ir embora envergonhada.

A melancolia toma conta de nossas vidas quando menos esperamos. Deixamos a porta sempre aberta, coisas boas acontecem, coisas ruins também, vivemos o momento, somos o momento. Nossa identidade deveria ser não ter identidade, a nossa realidade é triste, o mundo é cruel, a humanidade é contraditória, mas e quem escreve a nossa história? Deixa a vida levar ou deixa o destino agir? Coisas boas e ruins acontecem quando menos esperamos, mas somos nós, os responsáveis por fazer delas o que somos, e levar adiante os nossos sonhos. Nícolas e Natália casaram-se, mas não foi porque o acaso os apresentou, foi porque ele não a deixou ir embora. Igor falecera um ano após o casamento dos dois, a neve castigou novamente as calçadas da Praça Vermelha no seu funeral militar. Ele agora é a lembrança, a mesma que nunca lhe encontrava, agora o abraçou de vez. Temos que deixar partir mas temos que saber deixar chegar. Não que Nícolas tenha ganho de um lado e perdido de outro, são coisas diferentes. O casamento lhe fez bem, as portas e janelas do casarão agora têm tons claros, o jardim está mais lindo que nunca, e as lembranças enchem todos os cômodos. A vida pode ser triste e melancólica as vezes, mas, assim como os olhos de Natália, é um grande encanto.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Identidade

2/3



Natália formou-se em enfermagem na Inglaterra, pra onde havia se mudado com os seus pais desde o surgimento da União Soviética. Depois de 25 anos e de perder os pais em um acidente, decidiu voltar para Moscou. Convidada pela Lomonosov, a universidade estadual da sua cidade natal, passou a equilibrar seu tempo entre aulas para lecionar e plantões. Ainda assim arrumava algum tempo para completar sua tese, que acabara de completar dez anos, e trabalhos beneficentes.

Mais um inverno castigava a Rússia. Natália acordou-se subitamente, não sentia os pés, nem conseguia respirar. Contorceu-se em torno de si mesma, segurando a colcha com força, os olhos arregalavam-se. Sentia o rosto empalidecer-se e as lágrimas cortarem o rosto. A visão foi escurecendo cada vez mais, quando de repente, um clarão. O mesmo pesadelo por vários anos, várias formas, diferentes gestos, mas a mesma aflição e o mesmo triste fim. Um banho quente, um café, um cigarro, tranquilizantes. "Que rotina dos infernos" - reclamava sempre. Queria fazer tantas coisas na vida, que acabava não fazendo nada, não mudava nada. Colocou todas as roupas que precisava, a temperatura tinha subido um pouco, tornando possível uma caminhada madrugada a dentro pela Praça Vermelha.

Nícolas acordou com um grito ensurdecedor. Levantou mais depressa que as próprias pernas, sentiu o chão chegar mais próximo e encostar em sua testa. Mal sentiu o tombo e correu deslizando pelo piso do casarão. Os pés descalços, desavisados, gelavam, mas nada disso foi percebido ou o impediram de chegar até o quarto de seu pai. Igor era um ex-general da época da URSS, abandonado pela esposa, uma idealista que enlouqueceu na era dos czares, abandonando-o com o pequeno Nícolas de apenas um ano. Não teve uma vida fácil, mas sempre viu prazer em quase tudo que fazia, mas nunca foi muito de dar risadas ou uma pessoa fácil de lidar. Poeta e compositor, teve grandes paixões em sua vida, mas nunca chegara a casar-se novamente. Após tantos anos e tantas lembranças, recebeu da vida o retorno. Será que o destino é isso mesmo que dizem? Sabe, toda aquela magia em um reencontro. Luzes, cores, sons, amores. A vida para Igor e o seu filho nunca foi fácil, mas porque agora seria? Nícolas arrumou-se, pegou agasalho, sobre-tudo, cachecol e a cadeira-de-rodas do seu pai, e o levou para dar uma volta em seu lugar favorito de toda a grande Moscou.

Ninguém pode prever ou imaginar o que vai acontecer. Somos os maestros de nossas vidas, mas somos reféns do tempo, acúmulos de sentimentos. Nós somos o que já fomos no passado, o que somos hoje e o que podemos ser amanhã, um grande apanhado de momentos. Nós somos cada momento a todo instante. Igor tentava se lembrar da época dos desfiles militares que aconteciam na praça, confuso pediu que seu filho contasse alguma história. Por alguns minutos, raros minutos, pôde-se ver o brilho em seus olhos, a magia estava de volta. Para um cego, enxergar é um milagre. "Malditos os tantos que reclamam de suas vidas", - pensava Nícolas enquanto via seu pai revivendo seus momentos favoritos. Natália adorava o céu, mas ficou encantada com a cena que via. Um senhor de idade que levantava-se lentamente da cadeira de rodas, chorando e sorrindo enquanto seu filho gritava e cantava, e os dois se abraçaram, como se não se vissem há anos. "Uma foto para a eternidade". E os olhos se encontraram. Esqueça tudo o que você já viveu, esqueça tudo que você já soube sobre o amor. A vida pareceu soprar novamente.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Melancolia

1/3

Cair em esquecimento, sofrer indiferença, ver nos olhos de outro alguém que não existe mais espaço naquela alma para você. Triste fim, choro sem tamanho. O mundo se tornou um lugar minúsculo, ele criou um universo paralelo e nesse já não havia mais espaço para as decepções. O muro das lamentações se tornou o seu destino, fadado a desacreditar. Não existe nada pior que a falta de esperança.

Nícolas era um grande advogado renomado na cidade e passou a vida inteira tentando encontrar tempo para sua vida social e desculpas para os dias em que não comparecera a festas familiares, reencontros com velhos amigos e os concertos de suas filhas. Em troca de todo esse tempo de renúncia, uma enorme recompensa financeira apreciada em bens duráveis por muitas gerações. Viajara o mundo inteiro até descobrir que o melhor lugar para viver era em sua amada Moscou. Nícolas sempre fora amante da estrada, mas depois que sua namorada na adolescência engravidou, resolveu estabelecer-se. Junto com Anna tiveram duas filhas, as quais não viu crescer. Desde que se separaram, formou-se em direito e a cada ano trabalhava mais e tinha menos tempo.

Mudou-se para um casarão velho perto da praça vermelha, o lugar favorito do seu pai, o qual passou a morar junto, na antiga Moscou. Reinventou o jardim, arrumou a lareira, trocou algumas janelas tornando o lugar mais arejado e agradável. O quarto de seu pai era grande, havia uma cabeceira antiga, um closet magnífico e uma banheira com detalhes dourados. Só faltava contratar uma enfermeira dedicada, cuidadosa e paciente. Nícolas e seu pai sempre se deram bem, se pareciam em tudo, conversavam fumando charutos e experimentando a coleção de bebidas que colecionavam como hobbie. Tudo isso parece ter se perdido no tempo desde que foi diagnosticado com Mal de Alzheimer.

Geadas caíram, dias vieram, noites seguiram e tudo que passou não voltou, nem nunca voltará. O médico pediu para ter forças, disse que seria difícil e contou mais detalhes sobre a doença degenerativa. O tempo não facilitou em nada, mas ele ainda tinha que trabalhar, e sentia uma soco no estômago toda vez que chegava em casa. Seu pai estava sempre tentando se reconhecer no espelho, e sempre que era abordado, se assustava com o próprio filho, que havia se transformado em um estranho, reduzido a ninguém. Existiam alguns momentos de lucidez, mas os momentos seguiam com mais tristeza ainda. A doce e velha Moscou perdeu todo o encanto, e o mundo caiu sobre o casarão. As grandes e arejadas janelas viviam fechadas, gritarias se ouviam por toda a vizinhança, todas as flores do jardim morreram juntamente com as lembranças do passado. Caído em esquecimento, depressivo e melancólico, Nícolas não pôde fazer nada, a não ser, depois de 40 longos anos, chorar como uma criança novamente, sozinho em seu quarto. Olhando para o céu estrelado russo, pediu ajuda a qualquer força do universo. Estava vivendo um inferno astral, mas estava prestes a presenciar uma grande reviravolta.

sábado, 11 de maio de 2013

Despindo, despedindo e pedindo

Me abraça mais uma vez e olha o mundo que a gente fez, o sorriso na cozinha, o amor no quarto e o som na viola - que hoje me fez chorar. Me fez lembrar daquela vez. Nossa história começou assim, tipo "era uma vez", conto de fadas, filme de romance, te dei meu sangue, minha alma, meus olhos e minha prosa: você puxava a minha camisa e falava sobre rosas.

Uma ideia boa para a vida seria que você nunca mais saísse da minha. Reconheci em seu sorriso os meus segredos e não tive vergonha de meus erros, você lava a minha alma e desperta os meus desejos. Um beijo, seu beijo, você agora beija a vida. Eu sou a plenitude. A vontade de viver corre em minhas veias e eu corro para seus braços, seus traços me gelam, suas pernas me traem quando te levam embora, mas a sua boca torna a dizer que volta e traz meu sorriso a tona, apaixonando o meu pobre coração que sonha o sonho impossível de adiantar as horas dando, no mundo, um milhão de voltas.

Olhe nos meus olhos. Você consegue ver que a melancolia não mora mais aqui? Eu não choro mais, não por cansaço, mas por estar escarço o sentimento abafado, momento depressivo superado. Desde que você apareceu, amar se tornou novamente agradável, me tornou mais responsável, me fez ver o mundo de cabeça pra baixo. Vem cá, me dá mais outro abraço.

Como é difícil se despedir! Você me conta sobre sua rotina, e eu só penso em te despir. Eu vou cantar baixinho, mas se ajudar, liga o raidinho e ouve o som que eu tocava na viola, e coloca de vez dentro dessa cachola, eu te amo, então volta!

domingo, 5 de maio de 2013

O mais feliz do mundo inteiro

Vejo em você o que ninguém vê.
Não porque você não seja,
mas porque, veja bem,
se olhe de verdade
e me diga com honestidade.
Veja bem...
Veja quanta beleza!
Se quiser seja
sarcástica
e diga que não vê nada.
Mas se for sincera,
verás que nem a flor mais bela,
nem o dia mais lindo,
fará no mundo sentido
se você não aparecesse pra mim.
Odeia a futilidade
e ama poesia.
Então você me diga,
que defeito você colocaria
na mulher que simplifica
as coisas mais bonitas
que já vi na minha vida?
Se você vir metade do que eu vejo,
fique então sabendo:
Corra depressa e logo
antes que esteja se arrependendo
como eu, que vou vivendo,
mas embora também sofrendo
por ter me privado
de ser o mais feliz do mundo inteiro.