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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

feridas

"Será como se você nunca tivesse existido, como se você nunca tivesse entrado em minha casa e como se eu nunca tivesse invadido a sua vida. As feridas não cicatrizam tão rápido; às vezes precisamos abrir novas feridas pra esquecer outras mais antigas."

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

desempate

Não sei porque você ainda insiste com esses seus joguinhos. Será que você não consegue perceber que eles não são mais necessários? Será mesmo que você ainda não viu que eu já cansei deles? Começou chegando devagar, manteve o ritmo e nem precisou dar bote algum, eu já cai de cabeça em suas armadilhas traiçoeiras e perfumadas.

Você me disse que queria me ter nas mãos, mas já estou aos seus pés! Então me diga logo o que você ainda quer de mim? Quanto tempo falta para acabar esse interminável segundo tempo? Não vejo a hora desse jogo idiota acabar e eu poder te levar logo lá para casa para dar início aos acréscimos; marcar minha volta por cima e sair logo desse empate.

Deixa de arrodeios e esquivas, e me liga pra dizer que comprou o vinho que eu gosto e que ainda está esperando por mim. Eu parei na sua!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

oração

Estou agradecido por ter nascido em ambiente iluminado, florido. Agradecido por ter nascido. Agradecido por ter sido iluminado e por hoje a noite ter te conhecido.

Estou entusiasmado, estou nas nuvens, estou anestesiado. Tento pensar nas palavras que sempre quis ter ouvido, e sou confudido pelas palavras que você me disse.

Estou encantado.

A sorte e o destino finalmente me contemplaram! A hora e o local fizeram-me privilegiado.

Suspiro e respiro.

Uma razão para viver me foi acrescentado quando seus lábios enconstaram nos meus, enchendo meu organismo de alegria. Estou angustiado, conferindo as voltas do ponteiro no relógio, esperando o momento certo para te ligar e dizer que não paro de pensar na mulher que conheci há vinte e quatro horas, e acertar quando disser que você também não consegue parar de pensar em nosso primeiro beijo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

a olhos-brilhantes

Fazendo malabarismos para tentar equilibrar-se com tantas bagagens, ela conseguiu saltar porta a dentro no ônibus. Franziu a testa e esfregou toda a memória para lembrar em qual poltrona viajaria e não precisar tirar a passagem do bolso.

Vinte e cinco! - gritou sua consciência impaciente. Esquivou-se de uma senhora deitada na poltrona com a cabeça virada para o corredor, gingou para um lado e arremessou, como uma alavanca, as malas mais pesadas para o bagageiro em cima da poltrona. Ajeitou seu casaco e respirou bem fundo, procurando um bom motivo para realmente estar viajando para visitar o seu pai, com quem não falava há mais de cinco anos.

As risadas foram bem tímidas, mas não o suficiente para serem repreendidas por uma segunda voz, mais grossa e de tom um pouco menos amigável. Tici estava sorrindo da mulher que, parada a sua frente, viajava com a cabeça nas nuvens, enquanto seu pai ficava cada vez mais embaraçado.

Arremessada de volta para o ônibus, Gabriela caiu em si e deu de cara com o número da poltrona coincidente com o que estava impresso em sua passagem. Era de fato seu lugar, mas na poltrona, estavam enormes buxexas se afogando em um grande casaco de couro, com olhinhos puxados, franjinha e uma pequena janelinha no sorriso.

- Eu falei que esse lugar era de alguém, mas ela insistiu que comprou uma passagem para ir ao meu lado. - disse em um tom de repreensão, enquanto olhos-brilhantes continuava olhando atentamente para a mulher bem vestida a sua frente.
Em um piscar de olhos, a menininha pulou da poltrona para o colo do seu pai, que desculpou-se. Gabriela sentou-se e conversou com a criaturazinha que a encantou em poucos minutos. As duas conversaram sobre maquiagem, bolsas, castelos, bonecas e sapatos de salto alto. Tici falou sobre a comida que seu pai fazia que ela mais adorava, o quanto gostava de cafunés e ainda tentava convencer sua nova amiga, que a vida de uma princesa não é tão fácil quanto todos pensam.

Tici já estava acomodada em cima dos dois quando dormiu. André desculpou-se mais uma vez, mas a mulher que acabara de conhecer, só conseguia pensar na sorte de ter conhecido duas pessoas tão encantadoras.