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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Há relação

entre o óbvio fantasioso e a duvidosa realidade, eu vou passeando pelas ruínas da vida estranha e solitária que levei durante meus 50 anos. hoje é meu aniversário e não sei o que fiz durante todo esse tempo de útil. a maioria do tempo passei escrevendo livros, poesias e cartas de amor. vivi com mil mulheres diferentes e amei a cada uma delas. nem mais amor, nem menos amor. apenas amei a cada uma. passei cada segundo dos meus 50 anos de vida na companhia de alguém, e hoje não é diferente, e mesmo assim me sinto mas só que nunca. família não tenho, herdeiros (que eu saiba) não fiz, amigos estão por aí. fui feliz sim, claro e evidente que conheci a alegria nos dois mil braços que me acolhi e nunca soube o que é o choro e a tristeza.

a quem quero enganar? entre os próximos vários segundos de silêncio e o grande bufar de descontentamento, desacelerei os pensamentos que eu mesmo estava forçando. não posso mais me enganar. 50 anos. não sou mais um menino. não sou mais aquele cara, que mesmo tímido, conseguia estar presente em todos os lugares. que mesmo calado, muitas pessoas adoravam conversar. alegre, romântico, boêmio. quem eu sou? quem eu fui? a melancolia que me invade, me arrasta por todos os dias de vida, por todas as noites de farra e sono que tive, por todos as manhãs em que acordei com uma mulher diferente e mesmo assim me senti sozinho. o que faltou? o que falta? será que não basta toda a ostentação de uma vida a um? não sei o que se passa mais em minha cabeça. não sei mais o que quero que se passe. não sei mais a relação entre o meu eu impresso nas páginas do destino e a a minha projeção do que quero ser. o que quero ser? o que quis ser?

amado. eu sempre fui admirado e recebi muito carinho. mas nunca senti o amor de verdade. nunca vi nada tão sincero e, mais importante, inocente. estive na cama com muitas, mas todos os olhares que me liam e julgavam eram de pena. entre o passado e o presente, já não havia mais espaço para pensar no futuro. não havia mais futuro. eu completo mais um ano hoje e sinto ter morrido há alguns aniversários. então eu faço o caminho inverso. paro com o passeio por entre minha vida e volto ao hoje e me jogo ao físico. em minhas entranhas corre o sangue e o dna que não difundí.

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