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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Clichê ou não

depois que a situação havia passado, foi que me veio à cabeça o ocorrido. às vezes precisamos de um tempo para que nossa mente assimile coisas ditas há tempos atrás com coisas recém-ocorridas. mais do que ninguém, eu penso - e gosto - de pensar que coincidências não existem, que fatos isolados ou interligados ocorrem por acaso às vezes, mas que na grande maioria elas tem um motivo para acontecer. quando costumo expôr essa minha forma de pensar, muitos a taxam de clichê ou simplesmente não concordam. tudo bem. escrevo essa história hoje também para os que compartilham da mesma opinião que tenho, mas escrevo, mais ainda, para os que não concordam.

ontem eu estava em um determinado lugar esperando por alguém. em pé e do lado de fora, apoiado na parede e abaixo do sol do fim de tarde. tinha acabado de acordar e tomar um banho pós praia, estava muito bem comigo mesmo, talvez por isso não tenha reclamado em esperar um pouco a mais do que o planejado. tinham outras pessoas perto de mim, umas esperando também, outras passando... mas o que me chamou mesmo a atenção, foram as duas pessoas que estavam ali na rua mas não estavam nem esperando alguém, nem passando, apenas estavam ali e por ali mesmo iriam ficar.

pai e filha. ela estava esparramada em uma cadeira de plástico e ele fazendo malabarismo, cuidava da filha e dos carros em troco de algum reconhecimento em míseras moedas que não passavam sequer de um real.

antes de tudo isso acontecer, quando eu estava a caminho no carro de minha mãe, estava discutindo com ela sobre o meu futuro, sobre como tenho que chegar a uma vida estabilizada pra depois correr atrás do que eu quero, diferentemente de um médico. ela com a visão superprotetora de mãe e eu com as falas enroladas e com a habilidade de desviar das suas investidas. coisas como 'você é muito inteligente mas não sabe usar essa inteligência', 'você tem que correr atrás do que você quer' e 'acorda pra vida' estavam na pauta de falas dela. ainda conversamos muito mais sobre o meu futuro.

jogando-nos de volta àquela cena. eu estava pensativo sobre tudo o que minha mãe tivera me falado, quando, escuto uma voz bastante alta, alta o suficiente para perceber que não era a minha consciência. a filha daquele homem tinha acabado de torcer o pé, ele perdera um trabalho por causa disso e ainda teria que ficar a noite inteira com ela. muitos, no lugar dele, estariam revoltados com tudo isso e culpariam a todos, principalmente à Deus. mas não. as palavras que saíram da boca dele, falavam coisas simples sobre o futuro. sobre os esforços que fazia no presente e que teriam que surtir algum efeito no futuro da filha dele. que ela tinha que estudar e que tinha que correr atrás, que ela era inteligentíssima para uma menina de 5 anos mas que às vezes esquecia desse potencial. eu ouvi tudo atentamente e até cheguei a conversar com a menina. ela tinha olhos grandes e escuros. o cabelo tinha cachos enormes e bonitos que se a luz do sol batesse, revelaria um castanho claro e refinado. tinha a pele da cor da noite e um sorriso muito firme. constatei o que o pai dela tinha me dito, ela era sim inteligente, muito até.

incrível como dois fatos distintos e aparentemente isolados se encaixam em um contexto desfavorável para um 'clichê' tão grande quanto o meu. acredite ou não, muitas coisas na sua vida ainda vão acontecer, e muitas delas vão acontecer por um propósito. o que você tem a fazer é simplesmente se abrir para os acontecimentos, se jogar e tornar-se sensível para com o mundo ao seu redor. tudo isso aconteceu mesmo, só esqueci de perguntar o nome daquela garotinha inteligente...

Um comentário:

  1. Você como sempre fazendo grandes textos. Já conversamos varias vezes sobre isso e varias vezes você me aconselhou sobre o caminho que estou seguindo da mesma forma que aconselho a você. Acredito que sua mãe tentou atingir o ponto crucial, os estudos. Admiro muito a sua coragem e assumir aquilo o que você realmente gosta, talvez sem pensar no futuro o que aguardará o celebre Rafael Benevides, você sabe que tem talento e muito para o que escolheu mas vivemos onde a criatividade pouco importa ou a musica boa. Acredito sim que você vai vencer porque você é uma pessoa integra e ética, mas assim como sua mãe, existe também a proteção dos amigos e me preocupo muito com você e você sabe muito bem disso. Escolhi o curso que hoje estou não porque era o que mais me identifico mas porque penso um dia que também terei uma garotinha(o) ao qual vou proteger como o pai da menina fez, como sua mãe fez contigo também e quero dar a ela o melhor que estiver ao meu alcance, muitos dizem que o amor, felicidade é tudo, mas eu diria que isso é o principal e garanto a qualquer pessoa que você poderá dar sim a sua garotinha (familia) esses sentimentos. Enfim, se na sua vida você não consiga ser a pessoa que sua mãe sonhou que fosse ou ao menos esperava que você fosse, saiba que eles têm orgulho de você e se mesmo assim lhe faltar algo, eu serei o "Rafael Benevides" na sua historia e dar-te-ei a força que um dia você prestou a uma menininha desconhecida. Abraço meu grande amigo.

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