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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Mil por hora

eu tava onde deveria estar. ela veio andando e falando bem rápido, à companhia de sua mãe que escutava com paciência os caprichos da filha enquanto carregava uma radiografia do hospital próximo ao terminal onde estávamos. tive a sensação de já ter ouvido aquela voz. o sol refletia nos meus óculos escuros, fazendo eu inclinar um pouco a cabeça para baixo. então assim que ouvi a voz, prestei atenção nos pés, dedos delicados e uma pele branca, quase transparente. a medida que se aproximava, mais chamava a minha atenção. roupas discretas que nada combinavam com o tom de sua risada. inclinava a cabeça para trás, fechando os olhos minuciosamente enquanto mostrava aquele belo sorriso. cabelos cachados e dourados lembravam a minha primeira paixão, vivida aos oito anos, eu acho.

não consegui olhar em seus olhos. o ônibus chegou e entrei rápido, atentei-me para procurar um lugar perto da janela, queria distrair-me antes de chegar ao meu destino. sentei-me. senti uma presença suave ao meu lado, parecia apenas uma brisa de aroma que se tornaria inconfundível. ouvi sua mãe chamar por seu nome ao pedir para segurar suas bagagens. Carol. quinze anos depois. por onde ela andou? o universo estava ajudando com o nosso reencontro e nos dando uma segunda chance. ela continuava linda, e ainda tinha um rosto de criança, de um anjo.

decidi virar o rosto e olhar para ela fixamente, foi quando me dei conta de que ela já estava esperando enquanto olhava pra mim com um sorriso de derrubar humores tristes e de ensolarar dias chuvosos. não consegui falar nada, só esbocei um sorriso desengonçado. foi quando ela desfez o sorriso, articulou os lábios e disse o quanto eu estava incrivelmente diferente, mas que teve a certeza de que era eu mesmo quando abri aquele sorriso tronxo que a fazia ficar sem graça. tentamos colocar os assuntos em dia, mas não tivemos tanto tempo. ela teve que descer no ponto seguinte ao meu pedido. consegui o número do celular dela e prometi ligar por algum dia. enquanto sua mãe tentava atender o telefone, Carol atravessou a avenida olhando para a janela do ônibus que eu me escorava para vê-la melhor. quando ela conseguiu me ver, levantou os braços e acenou para mim, foi quando tudo foi interrompido por um carro que vinha na direção contrária e invadiu a contramão. ali vários sorrisos foram desmanchados. ouviu-se muito choro, gritos e sirenes. meu coração acelerou enquanto mais uma história estava sendo interrompida.

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