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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

engarrafamento

Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 1982.

navegue entre todas as gotas de água e seres vivos que se embrenharam no fundo do mar. navegue por todo o horizonte azul até alcançar terra firme, futuro incerto. pra onde as ondas te levarem, pra onde o vento resolver te direcionar, até parar nas mãos de quem o destino, caprichosamente, tenha escolhido para esta recepção.

eu escrevo linhas tortas pois em minha terra já não há mais amor. escrevo e enxugo as lágrimas que talvez sejam as últimas que cairão sobre esse solo. escrevo o que eu não posso dizer e acabo dizendo o que não quero mais escrever. quero ser compreendido, mas não quero que ninguém tente me entender. quero ser interpretado, mas não quero que ninguém me leia. então escrevo para que olhos desatentos sejam novamente olhos esperançosos, para que semente semelhante a que plantei em meu jardim não acabe como a minha flor-sem-vida entre flores mortas em quintal tão morto.

se você chegar a mãos delicadas, que as conserve. se você alcançar coração gelado, o derreta. se encontrares tristeza, semeie alegria. te escrevo com todo o carinho que em mim resta, como um último suspiro de esperança, e ao mesmo tempo de alívio. te escrevo exatamente onde morreu a minha última flor, e onde te encerrarei. então desejo do fundo de todo o meu sentimento já vivido até aqui: chegue a olhos cegos e desperte nelas a verdadeira visão, o poder de enxergar o amor em coisas tão simples como uma carta, como você, guardada dentro de uma garrafa de um vinho qualquer.


todos os amantes.

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