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segunda-feira, 30 de julho de 2012

até o último segundo

Esbarrei em um braço, no meio agitado entre tantos, esbarrei justamente naquele braço. Derrubei um copo de whisky com gelo, o que me fez lamentar mais ainda ter esbarrado.
- Porra, molhou meu cigarro. - a primeira constatação ao colocar a mão no bolso veio à boca antes do pedido de desculpas.
- Sabia que paciência é uma virtude?
Então me dei conta do total estado de desmanche em que declinei. A menina me falou com um sorriso sob medida para aquele rosto brilhante com um maço na mão. Eu apenas peguei-o, meio sem entender aquele tom essencialmente bom.
- É que lá no Tibet eles falam assim.
Um sorriso irritante, uma paciência que dava raiva. Que mulher encantadora. Minha consciência beliscou minha mente e enfim reagi à situação:
- Deixe eu te pagar outro copo.
- A gente se vê por aí. Cuidado por onde anda, rapazinho. - consegui sentir todo o meu corpo estremecendo ao ouvir aquela voz macia e suave.
O que tava acontecendo com a minha cabeça? Olhei pro maço de marlboro e me direcionei ao bar.
Bebi três. Tá, quatro. Talvez eu tenha bebido mais de dez cervejas. Na festa já não havia quase ninguém. Minha cabeça já estava rodando e já estava amanhecendo. Hora de ir embora e nem sinal da menina com a blusa melada de whisky.
- Brother, vou nessa. Amanhã prometi acordar cedo e dar uma corrida.
- Fala sério, né? Bebendo desse jeito, que vida saudável você vai ter, moleque.
Meus amigos sempre me divertem. Até perdem os limites as vezes nas piadas, mas eu nunca me importei.
- Amanhã te ligo. Valeu.
Atravessei o estacionamento, entrei no carro e a única vontade que tive, quando liguei o ar-condicionado, foi de dormir ali mesmo. Tirei o tênis e tirei a camisa que tava me sufocando. Encostei a cabeça no encosto do banco.
- Ei, oh, ei!
Acordei tão assustado que acabei apertando a buzina sem querer. Pensei que já estivesse em casa, mas ainda estava no estacionamento perto da boate. Apesar das risadas e do jeito despreocupado de falar, o carro dela não queria funcionar.
Abri o capô em vão, não sabia nem por onde começar. No final das contas ela travou o carro, me ajudou a tirar a amiga que tava dormindo bêbada no banco de trás e as resolvi deixar em casa.
- Como você disse que é seu nom...
- Louis Vuitton!- ela me interrompeu, e esclareu logo - A blusa. É uma das minhas favoritas sabia?
Eu fiquei sem graça até perceber que ela estava novamente brincando. Seu nome era Luana. Recém chegada de um intercâmbio na Califórnia, e além disso, já visitara o oriente médio, a oceania e a europa. Extremamente encantadora em mais de três línguas, ela tinha um sorriso lindo de verdade.
- A próxima a direita agora.
Peguei a menina desmaiada no colo e levei até a portaria do prédio onde uma figura simpatica nos recebeu e se ofereceu para levá-la para dentro. Me virei para Luana e disse o quanto havia sido impressionante o fim da madrugada e até gaguejei quando fui pedir o número de telefone dela. Foi quando ela começou a dar passos pra trás, ainda andando de costas e olhando pra mim ela foi recitando numeral por numeral quase que sussurando. Espremi os olhos tentando ler os lábios dela e pensando ao mesmo tempo que ela não tinha deixado de sorrir um segundo sequer.
Eu não estava acreditando em tudo que tinha acontecido. Entrei no carro e fiquei remontando os fatos, recontando os acontecimentos. Tinha dado um toque no celular dela e quando peguei o celular novamente já tinha uma mensagem.

Cine amanhã. Passe aqui às 20h.

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